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quinta-feira, 29 de maio de 2008

Não sou o único

No último mês, apesar da “humidade” constante, tenho podido apreciar a minha mota diariamente. São já 2000 quilómetros de duas viagens diárias. 2000 quilómetros de lições, de limites que podem ser alcançados, limites que atingi e que, definitivamente, não quero voltar a tocar.

Deixei cair a minha “menina” por descuido (e fui com ela até ao chão, num abraço protector e de desespero); fui apertado por camiões; rocei rails de protecção com o joelho; deixei a roda traseira deslizar no passeio por esquecer ensinamentos da escola de condução (nunca subir passeios na diagonal); senti a mochila que me acompanha taking off quando ia a 200 (já lá meto o cadeado, pode ser que o peso ajude); atravessei a ponte com chuva, por entre carros, motas, carrinhas e autocarros; cheguei ao trabalho completamente pintado de branco porque segui alguns metros atrás de um camião carregado de algo que nem quero saber o que era; senti algo bater nas pernas com a velocidade de uma bala e a dor agonizante fazer-me arrepiar da cabeça aos pés; tremi de frio; tremi de medo (as rotundas e as saídas da auto-estrada ainda me baralham os nervos. Com chuva então…); senti (sinto) os olhares que me lançam diariamente no elevador quando subo ao sexto andar para trabalhar (o tipo de capacete na mão e mochila às costas).

Tudo isto me aconteceu e vai, seguramente, continuar a acontecer. Tudo isto razões para pensar duas vezes antes de pegar na minha EMilinha e me meter ao caminho. Tudo isto razões para me chamarem maluco. Mas, também, tudo isto razões para dia após dia me dar mais gozo andar de mota. Tudo isto para ao fim do dia, ao passar na mesma montra espelhada já ao chegar a casa, olhar a pessoa reflectida e me sentir feliz. Mas mesmo muito feliz.

Não sei se é isto o que se chama ser motard, mas é isto que me faz sentir diferente para melhor, muito melhor. Sou livre, desloco-me como gosto, porque gosto. E não sou o único.

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