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segunda-feira, 15 de agosto de 2005

Passeio por Cacilhas

As novelas são a desgraça de qualquer homem. As mulheres passam horas em frente à televisão, vidradas em enredos com mais voltas que um novelo de lã, seduzidas por cenários de sonho e depois saem-se com coisas tipo “ – Vamos beber um copo em Cacilhas? Há lá uma esplanada muito fixe que aparece na telenovela.” E um gajo, naquela de se divertir e gozar a companhia das pessoas de quem gosta, até aceita sem hesitar.

Chegados a Cacilhas surge a perguntinha: “Então e a esplanada é onde?”… resposta: “Não sei, mas deve ser por aqui.” Por aqui? Mau. Já me está a cheirar a esturro.

Mais umas voltas, agora à direita, se calhar era à esquerda, sobe-se a Avenida, desce-se a Avenida… o melhor é estacionar e ir a pé. Erro crasso!

“Deve ser ali ao lado da estação, ao pé do rio.” Deve, deve. Bora lá.

Até se me arrepiaram os pilantros da nuca quando virei a esquina. Junto ao rio? Só se faltou a luz nesta zona porque não se vê um pintelo à frente dos olhos. Só consigo descortinar uns vultos de pescadores que nos olham com o ar de quem sabe o que um gajo e três gajas todas boas por ali andam a fazer. Provavelmente pensam que os preservativos XXL a boiar nas águas límpidas do Tejo são réstias de alguma visita anterior.

Confrontados com este cenário o mais provável era voltar costas e seguir noutra direcção, certo? Errado! Pergunta-se já aqui a um destes senhores que têm mesmo cara de quem é prestável, onde fica o miradouro e as esplanadas! E sai a resposta típica do bom samaritano português: “Seguem sempre em frente que é já ali”. E nós… tudo bem!

Só sei que comecei a andar com vista sobre a Praça do Comércio lá do outro lado do rio e que, depois de passar por cães, pescadores, turistas, pescadores, cães, pescadores, lá cheguei a um restaurante de onde se avistavam as Docas. Mas só que ainda não era ali, por isso… vai de andar.

Quando, finalmente, chegámos perto do elevador, concluímos que a esplanada era lá em cima. Vai de subir. Isto claro, só depois de, assim como quem não quer a coisa, perguntar ao segurança se era preciso pagar bilhete.

O que interessa é que chegámos onde queríamos… ou não. Porque depois de sair do elevador ainda tivemos que procurar o caminho para chegar à esplanada. Sempre a subir escadas e ruelas tá bom de ver. Por esta altura já eu sentia o sabor da bela da bejeca que ia poder saborear lá em cima sentadinho na esplanada, desfrutando a vista sobre o Tejo e sobre Lisboa.

Mas qual bejeca nem meia bejeca pah!! Esplanada? Nem vê-la! Sentas-te à porta do restaurante e já não é mau, pelo menos tens a vista.

E depois ainda chegam à bela da conclusão de que “se calhar a esplanada da novela é cenário.” Dah!!

Para não perder o balanço ainda tive que descer a Avenida toda até ao carro, garganta seca, quase derrubado pelo cheiro de um tipo que devia estar a poupar água e optou pelo banho de perfume, e com uma meia leka sempre a queixar-se que “tem xixi”.

Acontece-me cada uma!

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