Sou um “pré-motociclista” em vias de terminar a carta de condução e me iniciar neste novo mundo. E decidi-me por este meio de transporte, eu que já sou condutor automóvel há mais de 10 anos, por uma razão muito específica: a necessidade de me fazer transportar da margem sul para Lisboa diariamente.
Como tal, de há alguns meses a esta parte, tenho prestado mais atenção a tudo o que me circunda e respeita o mundo motociclista. Nesta perspectiva foi com agrado que verifiquei a existência de locais de estacionamento para motociclos junto ao meu local de trabalho, as Torres de Lisboa. Três normais lugares de estacionamento, devidamente delimitados por barras metálicas que interditavam o acesso a qualquer veículo que não motociclos e que conseguiam comportar facilmente há uns meses cerca de cinco motos e, com alguma perícia e imaginação, mais recentemente, oito veículos diariamente.
Com este aumento de veículos, pensei eu, a breve trecho seriam certamente disponibilizados mais um ou até mesmo dois lugares suplementares. Pura ingenuidade e nada mais pois, para além de os lugares existentes terem servido muitas e muitas vezes de zona de cargas e descargas para as obras da Torre A, para além de terem servido de estaleiro para as obras na calçada fronteira à mesma torre, agora simplesmente desapareceram!
As barras metálicas foram removidas e os buracos tapados com cimento, estando agora disponíveis para veículos automóveis. Mais três veículos automóveis. Pergunto eu: serão esses três lugares de estacionamento que irão resolver os problemas de estacionamento na área circundante às Torres de Lisboa?
Onde antes se acomodava o transporte de 8 pessoas acomoda-se agora o de 3. A matemática nunca foi o meu forte mas parece-me, neste caso, fácil de fazer: se os oito motociclistas passarem a estacionar num lugar de estacionamento normal, não se ganharam 3 lugares de estacionamento, perderam-se cinco! Ou será o objectivo outro? Passarão os motociclistas a estacionar em cima dos passeios? E depois? Para além do típico apontar de dedo a que sempre foram sujeitos: de pessoas mal formadas, que não respeitam ninguém, que até estacionam nos passeios bloqueando a passagem, passarão também a ser confrontados com o Sr. Agente da PSP que se passeia diariamente frente às torres sem nada fazer, permitindo estacionamentos em segunda fila, manobras perigosas e coisas que tais e que agora poderá mostrar serviço todos os dias na esquadra com as multas que passou a esses energúmenos das motas.
Numa altura em que muito se fala do excesso de trânsito na cidade, nas portagens à entrada de Lisboa como forma de diminuir a poluição, é chocante perceber que tudo não passa de areia para os olhos de todos nós. Enquanto países desta mesma Europa que é a nossa, tomam medidas para incentivar a utilização de motociclos, veículos comprovadamente menos poluidores do que os automóveis (que em Portugal circulam 95% das vezes só com uma pessoa) por cá continuamos a insistir em estar na cauda da Europa pelos piores motivos.
É incompreensível que, não só não se criam novos lugares de estacionamento para motos como se extinguem os poucos existentes. Como “pré-motociclista”, como cidadão, sinto-me ofendido e enxovalhando. Ainda não tenho mota e já sei o que é sentir-me um cidadão de segunda. Serei, como sempre, cidadão de primeira uma única vez por ano: quando entregar a minha declaração de IRS.