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segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A minha metade

Não me considero “velho”. Entrei nos 30 há dois anos atrás e, mesmo sendo alvo das mais variadas brincadeiras e picardias por parte dos amigos (sabes quem és porque és a pita da “trupe”) sinto-me ainda bastante jovem. Mesmo que por vezes olhe para trás e veja tudo o que já ficou pelo caminho e não fiz apesar de o sonhar. Penso que muito do que ficou encontra explicação nos meses de depressão, de clausura auto-imposta em casa, na falta de coragem. Outros dos pedaços ficam por responder e nesta altura já não tenho ou, talvez, ainda não tenho, vontade de os explicar.

Apesar de tudo o que fui perdendo, as oportunidades, os sonhos, existiram sempre momentos que permaneceram e vão permanecer para o que me resta para viver (muito ou pouco não sei, mas já me disseram que me fico pelos 50… não me agrada a perspectiva, acho pouco). Ficaram sempre os ensinamentos. Bem sei que muitas vezes foram precisas muitas e muitas cabeçadas, muitas chamadas de atenção, zangas. E tenho que agradecer a quem se zangou sempre comigo nessas ocasiões, porque nesses momentos me mostraram o quanto gostavam e se preocupavam comigo. É fácil estar com alguém quando as coisas são boas e agradáveis, mas muito mais difícil encontrar quem fique do nosso lado quando assim não é.

Nunca gostei do sentimento de inferioridade que a ignorância sobre algo nos impõe. Não saber e dar a conhecer que assim é sempre me provocou um mal-estar interior que me levava a disfarçar a ignorância com a prepotência. E fi-lo muitas e muitas vezes, sem perceber que não era aos outros que enganava, era a mim mesmo. Aliando a este sentimento uma teimosia incompreensível tornei-me realmente insuportável. E foram os que não me abandonaram nesse momento, os que me mostraram o quanto gostavam de mim e lutaram por mim, que me chamaram à razão. E, ultrapassada a teimosia que me cegava, percebi que o importante não é o que sabemos e mostramos, é o que somos. E fiquei em paz comigo próprio.

E ao estar em paz comigo permiti-me estar em paz com o mundo, com os que me rodeavam. E permiti-me algo que pensava já estar destinado a não encontrar: o amor. Entrou na minha vida apenas como alguém mais, uma colega, depois amiga. Apenas brincadeiras inocentes que me preenchiam os dias da semana, uma amizade que se foi construindo dia após dia. Mas havia mais escondido nas brincadeiras. Havia um sentimento que foi crescendo mais e mais e que pensei ser apenas da minha parte. E, num dia de Julho, descobri que não era o único a senti-lo, e foi um momento inesquecível.

Posso afirmá-lo com a maior das certezas, foram os meses mais felizes da minha vida. Mas, no meio da minha felicidade acabei por perder o sentido da razão da minha paz e vi-me na posição de ter que aprender novamente. Mas mais uma vez a minha teimosia veio ao de cima. Mais uma vez, agora confrontado com um sentimento novo - o amor correspondido - o sentimento de inferioridade devido à ignorância levou-me à prepotência. Não consegui ver para além da minha própria felicidade. Não percebi que a minha felicidade era a felicidade da pessoa que amo. Não percebi que a pessoa que sou na verdade ficou escondida num manto de aparência e vontade de ser o que pensava que devia ser. E perdi-a.

É doloroso perceber que, por vezes, só conseguimos ter noção do quanto alguém nos é importante, de como realmente amamos alguém, quando já não temos o seu amor. Nesse momento ficamos perdidos no mundo, nada faz sentido, nada é importante. Ouvimos as razões e tomamos consciência de como estávamos errados, de como nos achámos donos da verdade absoluta só porque nos pensávamos felizes. E acabei por perceber, da forma mais dolorosa, que o que sinto é muito mais que amor, é a certeza de que se encontrou a metade que nos faz falta. Percebi que o que sinto é o carinho, a cumplicidade, a amizade que não consegui transmitir quando devia e me fez perder a pessoa com quem sonhei fazer uma vida.

Agora que percebo todos os erros que cometi ao não ser apenas eu próprio, em não saber estar presente quando o devia ter feito, percebo também que a pessoa que sou é a pessoa que sempre pôde fazer feliz quem me faz a mim. É a pessoa que luta pelos amigos com mais determinação do que luta pela sua própria vida, é a pessoa que sofre com o sofrimento de quem lhe é importante e rejubila com as suas alegrias. E essa consciência não me deixa esquecer o que sinto.

Pode ser tarde demais, luto para que não seja, mas como ouvi repetidas vezes “ninguém sabe o futuro”. E, se não sei o meu futuro, de uma coisa tenho a certeza absoluta: sei quem quero ao meu lado nesse futuro. Sei quem quero poder fazer feliz, sei quem me fará feliz com a sua felicidade. E não o quero perder.

Vou esperar pela minha metade, o tempo que for preciso.

1 comentário:

Anónimo disse...

A tua cara metade será a mulher mais feliz do Mundo
Maria