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quinta-feira, 12 de agosto de 2004

Reeducação quê???

Qualquer pessoa que já fez, faz ou fará dieta sabe que essa não é a solução. No máximo, é um empurrãozinho. Os especialistas são unânimes em afirmar que a única saída para o excesso de peso crónico é a reeducação alimentar. Só que, tal como o socialismo, a paz e a queda dos juros, a reeducação alimentar é uma utopia. Por acaso conheces alguém, digamos assim, alimentarmente reeducado?
Quando um dependente químico de comida permanece um bom tempo aparentemente recuperado, é porque se converteu à religião do nosso tempo, a ginástica. Ou então tornou-se mais um desses que se lipodesfazem regularmente na mesa de operações.
País mais afectado pela dependência química de comida, os Estados Unidos lançaram um programa de reeducação alimentar à força. Fabricantes de chocolates e salgadinhos estão a ser obrigados a diminuir o teor de gordura dos seus produtos. Em vez de ir ao dentista, os consumidores de doces e frituras agora vão directamente ao advogado, para pedir indemnizações bilionárias à indústria da gula. Os próximos capítulos são fáceis de adivinhar. Os restaurantes vão ter ambientes separados para clientes fritantes e não-fritantes.
Não tarda muito, temos os chocolates forrados com rótulos ameaçadores, ilustrados por fotos de obesos mórbidos, adolescentes borbulhentos e avisos como:
A EUFORIA CAUSADA PELO CONSUMO DESTE PRODUTO DURA POUCO E É SEGUIDA POR DEPRESSÃO, ERUPÇÕES NA PELE E PNEUZINHOS INDESEJÁVEIS.
Ou: CADA UNIDADE DESTE SALGADINHO (QUE É IMPOSSÍVEL COMER UM SÓ) NECESSITA DE DOIS A TRÊS MINUTOS DE PASSADEIRA PARA SER QUEIMADA.
Ou ainda: UM MINUTO DA BOCA, O RESTO DA VIDA NAS ANCAS.
Não, não, nada disso vai dar certo.
Como nos poderemos reeducar alimentarmente, se ele, o Magro-de-Ruim, está solto? O Magro-de-Ruim - aquele tipo que come o que quiser, na quantidade que bem entender, e jamais engorda - é um curso de deseducação alimentar ambulante. A sua mera existência abala a fé na justiça e inviabiliza o estabelecimento da mais rudimentar relação de causa-e-efeito.
Todo o Magro-de-Ruim deveria ser requisitado por lei a submeter-se a baterias de estudos científicos que ajudassem o resto da humanidade - pelo menos o resto da humanidade que come - a comer e não engordar.
Onde estão as grandes empresas de biotecnologia, que não tentam decodificar o genoma do Magro-de-Ruim?
É preciso declarar o Magro-de-Ruim de utilidade pública, para que o seu metabolismo seja clonado e transplantado para homens e mulheres de bem…


Adaptado de “O Efeito Sanfona – Confissões de um Dependente Químico de Comida”, de R. Freire

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